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Salmo 127

1 Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.

2 Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele supre aos seus amados enquanto dormem.

3 Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão.

4 Como flechas na mão dum homem valente, assim os filhos da mocidade.

5 Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta.

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domingo, 7 de dezembro de 2008

A hora política dos BRIC

Uma imagem vale por mil palavras, costuma dizer-se. E, em diplomacia, provavelmente vale muito mais.

Algumas das fotos mais difundidas da recente cimeira de Washington do G 20, nos dias 14 e 15 de Novembro, falam, de facto, por si. Na foto de família, o protocolo resolveu ladear George W. Bush com os presidentes Lula da Silva, do Brasil, e Hu Jintao, da China. Como no cerimonial do poder mundial nada nasce de caprichos do acaso, o simbolismo representa, sem dúvida, a afirmação de uma nova partilha do poder mundial está em curso.

Os BRIC, um acrónimo criado pela Goldman Sachs em Outubro de 2003 para designar as quatro maiores potências emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China), deixou de ser «um sonho» (como intitulava o artigo da consultora de há cinco anos atrás) para passar a ser a realidade reclamada pelo próprio comunicado do G 20.

O reconhecimento, finalmente

A cimeira de Washington reconheceu que as instituições internacionais saídas do acordo de Bretton Woods de 1944 (em que se incluem o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial), para manterem “a sua legitimidade e eficácia”, têm de ser reformadas de modo a “mais adequadamente reflectirem a mudança no peso económico” das várias grandes potências.

Basta olhar para as mudanças de peso relativo (ver quadro 1) para se observar que, à excepção da Rússia (depois da dissolução da URSS em 1991), os BRIC aumentaram o seu peso relativo no PIB mundial (medido em paridade de poder de compra) nos últimos quinze anos – com destaque para a China que é hoje a terceira economia do mundo (depois dos Estados Unidos e da União Europeia) e para a Índia que ultrapassou a Rússia. Os «media», em geral, continuam a falar do Japão como terceira (ou segunda, se não se considerar a UE como um todo) economia mundial, ignorando esta mudança decisiva.

Uma guerra contra a rigidez das instituições

A «guerra» geoeconómica de afirmação dos BRIC joga-se em vários tabuleiros e o jogo de ganhos e perdas vai observar-se ainda durante este ano e seguramente no próximo, com uma «batalha» importante na nova cimeira do G 20 marcada para 30 de Abril de 2009.

Ainda este ano, há que acompanhar com atenção o que irá decorrer no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Com base na trégua de um ano acordada, agora, em Washington para evitar decisões políticas de proteccionismo em matéria de investimentos e comércio internacional, a Ronda de Doha vai ser ressuscitada a 10 de Dezembro. Como se sabe foi a dupla China-Índia que abortou a conclusão da Ronda em Julho passado e a Índia já havia boicotado as negociações finais em Julho de 2006 na cimeira de Genebra daquela reunião ministerial.

A incógnita é saber se o grupo informal do G7 criado em 1976 (EUA, Canadá, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Japão, ou G8, incluindo a Rússia) será definitivamente arrumado no armário do pós-guerra e se um fórum mais “actualizado” surgirá.

A actual crise financeira mundial, e a manifesta incapacidade desse grupo lidar com ela, parece abrir caminho a que essa seja “a primeira rigidez do actual sistema internacional a ser removida”, diz-nos Thomas Bobinger, um jovem especialista alemão em legislação e política de segurança internacional, que trabalha no Instituto Alemão de Direitos Humanos, em Berlim, e que estudou recentemente o papel dos BRIC no novo xadrez do poder, aplicando a teoria dos ciclos de potência nas relações internacionais, em particular a metodologia do projecto «Correlates of War», da Universidade do Michigan.

Inclusive não será de descartar a hipótese da crise financeira «acelerar» o desenvolvimento de algumas tendências de mudança do xadrez geopolítico e geoeconómico.

Uma cimeira dos BRIC poderá realizar-se em 2009 na Rússia, segundo uma proposta que terá sido discutida entre o presidente brasileiro e o russo na recente visita deste último ao Brasil em Novembro.

Uns mais iguais do que outros

Nesse tabuleiro, estão, também, naturalmente as questões de geopolítica, que se prendem com os novos lugares permanentes no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Thomas Bobinger, que avaliou as pretensões do designado G 4 (Brasil, Japão, Índia e Alemanha) para se juntar aos cinco permanentes (EUA, Reino Unido, China, França e Rússia, que têm direito de veto), verificou, no seu estudo, que entre os quatro BRIC há uns mais iguais do que outros.

Um dos factos curiosos que Bobinger sublinha, desde logo, é que entre os cinco permanentes das Nações Unidas, apenas a China é uma grande potência em ascensão nos últimos trinta anos, tendo-se assistido ao declínio moderado dos EUA e muito acentuado dos outros três.

Por outro lado, entre os quatro BRIC nota-se uma discrepância, em termos de poder relativo, entre a China – cujos gastos de Defesa a colocam hoje em número dois em termos de peso mundial e com uma grande margem de crescimento em termos de parcela do seu PIB (ver quadro 2) – e os outros três grandes emergentes.

Acresce que a China é, desde Setembro, o maior credor dos Estados Unidos, tendo ultrapassado o Japão: “A China é o banqueiro americano”, diz Fareed Zakaria. Salvas as devidas proporções, algo que faz recordar o momento em que os Estados Unidos se tornaram o principal credor da Inglaterra, então a potência incumbente.

O elo mais crítico

O caso mais problemático, entre os BRIC, é o da Rússia. A sua quebra de poder relativo desde a «perestroika» é abissal – a Rússia caiu em 1998 para 1/3 do poder da antiga superpotência e, apesar da recuperação económica, política e militar com o consulado Putin e de ter um Índice de Desenvolvimento Humano superior aos outros três (ver quadro 3), o seu poder relativo é hoje, ainda, inferior ao da China e, segundo alguns, ao da Índia em termos de curvas de potência.

Bobinger aconselha, por isso, um acompanhamento da trajectória daquele país euro-asiático. Um dos cenários é de um maior risco de turbulência mundial poderá vir, no médio prazo, do desfasamento entre a imagem de poder que as elites russas reclamam que devem voltar a ter (uma hipótese a seguir é avaliar se a Rússia quererá eventualmente restaurar o lugar num núcleo restrito de superpotências, eventualmente uma «troika» com os EUA e a China) e a realidade do poder objectivo (económico, militar e político) que conseguirão alcançar com base no Plano Medvedev até 2020 apresentado em Setembro passado.

Recordemos alguns objectivos desse plano: estado de prontidão permanente; corrida tecnológica no armamento; superioridade aérea; dissuasão nuclear de novo na ordem do dia; militarização do espaço; posicionamento em nichos geográficos no mundo - saltam à vista as Caraíbas (as recentes manobras no Mar das Caraíbas da operação ‘Venrus 2008‘ com a participação de quatro barcos russos a seguir à visita de Medvedev a Caracas em Novembro de 2008 são um primeiro exemplo) e, em geral, a América Latina sensível à grande potência do Norte, o Magrebe e o Árctico -; e, finalmente, o reforço em pontos estratégicos como Sacalina e Península de Kamechateca e os Mares Negro, Cáspio e Báltico.

A teoria da «ascensão do resto»

A afirmação dos BRIC levou os americanos a desenvolverem, recentemente, um novo quadro mental geopolítico em que o «unipolarismo» é substituído pela aceitação de uma situação «multipolar» em que a superpotência incumbente se vê confrontada com “a ascensão do resto” («the rise of the rest», na expressão cunhada por Fareed Zakaria).

Esta nova análise permite manter uma ideia central: os EUA não estão em declínio como líder mundial, a sua superioridade económica e militar é ainda significativa, e os seus recursos em «soft power» são ainda enormes, apesar dos estragos de oito anos de Administração Bush. De facto, a fatia de riqueza «agregada» dos quatro BRIC (22,2% do PIB mundial em paridade de poder de compra) é ligeiramente superior à dos EUA (21,3%), mas o seu poder militar «agregado», medido pelas despesas na área da Defesa, ainda é apenas 34% do norte-americano.

Esta síntese sobre a manutenção do núcleo duro do poder mundial dos EUA é bem explicitada pelo académico Joseph Nye – o teórico da Universidade de Harvard que já referimos noutros artigos – numa entrevista à revista Harvard Business Review (Novembro 2008, rubrica ‘Different Voice’), o que o leva a considerar-se um “optimista de longo prazo sobre os Estados Unidos”.

Também o recente relatório do National Intelligence Council (NIC), intitulado Global Trends 2025, se junta a este consenso e «corrige» a visão «optimista» de 2004 em plena época de ouro de George W. Bush – esta entidade pública independente produz um relatório de quatro em quatro anos, e este é claramente uma «prenda» para a reflexão da próxima Administração Obama. Numa resposta na conferência de imprensa de apresentação do relatório, Thomas Fingar, presidente do NIC, explicitou: “Falamos em termos de poder relativo, não absoluto (…) O que sublinhamos, agora, é a ascensão do resto, mais do que o declínio dos EUA. E isto é uma boa coisa”.

Contudo, o xadrez mundial não é elástico. E se sobe o resto, tem de descer a outra parte, sobretudo num horizonte até 2025. Mas isso é extremamente difícil de visualizar pelos americanos – sobretudo, agora, com as elevadas expectativas na Administração Obama. Como nos referiu Joseph Nye: “Penso que Obama mostrou a capacidade para juntar o «hard» e o «soft» na sua estratégia de campanha, o que augura que possa fazer o mesmo numa estratégia internacional de «smart power»”. «Poder inteligente» em geopolítica é a palavra-chave de Nye, a que já nos referimos em artigo anterior e numa entrevista a propósito do seu último livro.

Esta reafirmação da confiança no estatuto de poder dominante no mundo surge, agora, em virtude das acusações de “inexperência” internacional do Presidente-eleito e de haver uma corrente que advoga abertamente - e que o reclama junto de Obama - um plano de «downsizing» do império.

Preocupante, de qualquer modo, a conclusão tirada pelo relatório do NIC: “As rivalidades estratégicas poderão surgir em torno do comércio, dos investimentos e da inovação e aquisição tecnológica, mas não podemos colocar de parte um cenário do tipo do século XIX, com corrida armamentista, expansão territorial e rivalidades militares”. E, mais adiante: “Poderão reemergir tipos de conflitos que estiveram arredados durante algum tempo – como os conflitos por recursos”. Aspectos a que já nos referimos neste blogue.

QUADROS

Quadro 1
Evolução do Peso no PIB mundial (%)
em paridade de poder de compra
em 1991 e 2007

EUA: 19; 21,3
China: 7,4; 11,5
Rússia: 3,8; 3,2
Índia: 3,7; 4,6
Brasil: 2,5; 2,9
Fonte: Banco Mundial

Quadro 2
Gastos em Defesa
Por % mundial; % do PIB nacional; Gasto por militar no activo (milhares de dólares)
EUA: 48,3; 5; 507,8
China: 8,3; 1,6; 55,5
Rússia: 5; 3,3; 53,8
Índia: 1,8; 0,9; 20,3
Brasil: 1,7; 1,4; 84,7
Fonte: SIPRI e Globalissues.org, dados em 20/02/2008

Quadro 3
Índice do Desenvolvimento Humano
Em 1990 e 2005
EUA: 0,976 ; 0,951
Rússia: 0,908; 0,802
Brasil: 0,759; 0,800
China: 0,614; 0,777
Índia: 0,308; 0,619
Fonte: UNDP, relatórios de 1991 e 2007/2008

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