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Salmo 127

1 Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.

2 Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele supre aos seus amados enquanto dormem.

3 Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão.

4 Como flechas na mão dum homem valente, assim os filhos da mocidade.

5 Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta.

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sábado, 7 de novembro de 2009

O caminho digital para o armaggedon

RIO - De uns tempos para cá, fortaleceu-se a noção de que as guerras modernas começarão pelos computadores, dada a sofisticação dos hackers e crackers contemporâneos. Não por acaso, a Estônia teve sua internet devastada dois anos atrás, e em recente conversa com um especialista brasileiro, ouvi dele que o ataque a grandes protocolos de automação pode ser o próximo passo das agressões "virtuais".

Entretanto, o fantasma de uma guerra nuclear permanece, porque ainda há armamentos desse tipo espalhados pelo mundo. E, pasmem, essa guerra pode ser causada por uma resposta quase automática. É que ainda dorme nos porões da Rússia uma relíquia cibernética da Guerra Fria chamada oficialmente de Perímetro, mas apelidada, em russo, de Mertvaya Ruka - a Mão da Morte. Seria um sistema computadorizado sofisticadíssimo, capaz de detectar sozinho um ataque nuclear a solo - e de dar os primeiros passos para iniciar uma resposta bélica. Ou seja, um Armaggedon dormente em forma de bits e bytes.

O Perímetro ainda é cercado por grossas brumas de mistério - não por acaso, seu verbete na Wikipedia o chama de "suposto" sistema de controle nuclear -, e jamais foi mencionado em negociações diplomáticas para redução de armas atômicas, revelou recentemente extensa reportagem sobre o tema na Wired. Mas, depois da queda da União Soviética, ex-oficiais russos começaram a falar da existência desse recurso.

Um dos que mencionaram o Perímetro foi o ex-coronel soviético Valery Yarynich, que escreveu um livro sobre os sistemas nucleares de seu país: "C3: Nuclear Command, Control, Cooperation". Segundo o pesquisador militar americano Bruce G. Blair, que escreveu o prefácio do livro de Yarynich, este dá uma descrição completa do projeto, que teria sido criado nos anos 80 em São Petersburgo, sob a liderança do tenente-general Varfolomey Korobushin. "[O projeto] incorpora ousados conceitos para lidar com as circunstâncias de um possível ataque de mísseis nucleares americanos à União Soviética que decapitasse a liderança política e militar na Grande Moscou", escreve Blair. "Yarynich provê a base analítica e factual para julgar a capacidade russa (soviética) de manter o controle em vários cenários de estresse - desde [prevenir] um ataque nuclear até atos ilícitos internos que permitam o mau uso das armas nucleares, passando pela defesa contra um ciberataque terrorista."

O Perímetro poderia detectar um ataque sozinho, e começar uma resposta, mas não é de todo automático: ainda precisa da decisão humana. Inicialmente, foi programado para ficar num estado "semidormente" até ser ligado por algum oficial com esse poder. Uma vez ativado, a primeira coisa que os computadores fariam seria buscar indícios de que o solo russo foi atacado com armas nucleares - consultando sensores de radioatividade, monitores de abalos sísmicos, verificadores da pressão no ar, calor e assim por diante. Caso as varreduras de seus sensores indicassem que um ataque realmente ocorreu, o segundo passo seria tentar entrar em contato com autoridades civis e militares da cúpula, presumivelmente reunidos em alguma sala de comando para avaliar a resposta. Se ninguém respondesse às tentativas de contato num prazo predeterminado - que, segundo Yarynich, poderia ser de uma hora - o Perímetro chegaria à conclusão de que as lideranças estão mortas, e transferiria a decisão final de apertar o botão do Armaggedon para quem o estivesse operando, em seu bunker sob o solo. Mas a decisão final ainda caberia a um homem, apesar da sofisticação computadorizada.

Sistemas como esse fazem lembrar o supercomputador Joshua, do clássico filme "Jogos de guerra", em que um nerd vivido por Matthew Broderick entra por acaso no sistema militar americano e quase causa a III Guerra Mndial. Estaria o sistema sujeito a ataques de hackers, aliás? Esta é mais uma preocupação com relação a ele.

Para o professor Fabiano Mielniczuk, especialista do Departamento de Relações Internacionais da PUC-Rio, o sistema não é uma ameaça em si, mas trata-se de mais uma peça no complicado quebra-cabeça de equilíbrio atômico entre as potências, herança da Guerra Fria.

- Quanto ao Perímetro ser uma ameaça, ou correr riscos de ataques cibernéticos, acho pouco provável. Primeiro porque um humano com autoridade para tal deve iniciar o sistema de verificação, quando reconhecer que existe uma situação de crise nuclear.

Além disso, diz Fabiano, após todas as indicações da iminência de uma guerra nuclear, ainda assim outro humano deve acionar o gatilho.

- Mesmo que esse sistema passe por cima da hierarquia de comando, é um risco que se corre em função do modo como o mundo está ordenado estrategicamente - diz. - Mas veja que é um risco humano, não cibernético. Ele decorre, principalmente, de nossas escolhas; como cidadãos do mundo, aceitamos que nossos governantes reproduzam essa lógica.

E é uma lógica perversa. O principal mecanismo de estabilização das relações entre as duas superpotências na Guerra Fria era a dissuasão nuclear, ou seja, a capacidade de evitar que uma delas inicie um ataque nuclear.

- Como seria impossível evitar que ocorresse um primeiro ataque, o sistema todo se mantinha pela certeza de que, na ocorrência de um primeiro, o Estado que iniciou o ataque sofreria uma retaliação, ou seja, um segundo ataque - conta Fabiano. - A certeza dessa retaliação é o que garante uma destruição mútua, e por isso esse sistema recebeu o acrônimo de MAD ("maluco", como palavra, e "mutual assured destruction", como sigla). Assim, o componente de dissuasão viria pela certeza do MAD e uma guerra nuclear nunca teria início.

Esse equilíbrio do terror era mantido por um conjunto de acordos de desarmamento que impunham limites à construção de armas de defesa capazes de evitar um segundo ataque. Um dos exemplos é o ABM, o Tratado dos Mísseis Antibalísticos, dos anos 70.

- As tentativas reiteradas dos EUA de construir um escudo antimísseis durante o período Reagan seriam uma alternativa para que os EUA saíssem do MAD, e pudessem atacar qualquer país sem medo de retaliação, tendo em vista que, com o escudo, um segundo ataque não representaria mais uma ameaça - explica Fabiano. - Porém, foi recentemente, com o Bush filho, que os EUA denunciaram o ABM e iniciaram a construção de um escudo. Depois, anunciaram a construção de um escudo na Europa do Leste, e a Rússia avaliou essa medida como a tentativa americana de acabar com o equilíbrio nuclear entre os dois países.

Segundo ele, a decisão atual de Obama de abandonar o projeto de um escudo antimísseis na Europa do leste considerou essa lógica. Por isso o atual presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, a recebeu positivamente. E a corrida armamentista se explica também por essa lógica. Por que seriam necessárias mais de dez mil ogivas nucleares em cada um desses países se apenas meia dúzia poderia acabar com a vida na Terra?

- Ora, quanto maior é o número de ogivas, mais espalhadas pelo globo elas estariam e maior seria a capacidade de retaliação. O ponto crítico dessa engrenagem seria a "ignição": quem daria a ordem para o fim do mundo? A decisão competia ao líder de cada país e, durante muito tempo, um funcionário de confiança dos presidentes carregava uma maleta de onde poderia ser acionado um dispositivo nuclear a qualquer momento - lembra Fabiano. - Em algum encontros de cúpula era possível ver esses funcionários junto às comitivas presidenciais, como representação do poder de dissuasão. E se um primeiro ataque eliminasse as principais lideranças político-militares do o país, quem iniciaria a retaliação? O Perímetro viria justamente suprir essa lacuna.

E, como a lógica da dissuasão continua em vigência, é bastante provável que ele continue suprindo. Ou seja, quem tem, tem medo.

FONTE: O GLOBO

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