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Salmo 127

1 Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.

2 Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele supre aos seus amados enquanto dormem.

3 Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão.

4 Como flechas na mão dum homem valente, assim os filhos da mocidade.

5 Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta.

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

As encrencas da Kroll

por Laura Ancona Lopez

Uma das consultorias mais famosas do mundo, a empresa norte-americana é relacionada a casos de espionagem no Brasil. PODER conversou com seus diretores, que juram não fazer nada ilícito. Já na Justiça Federal, a suspeita é outra

Era uma tarde ensolarada em São Paulo. Na recepção do prédio de escritórios da Vila Olímpia, a reportagem de Poder aguarda ser anunciada. “Você vai à Kroll?”, pergunta o segurança, sem o menor ar de mistério. Faz isso de modo trivial, como se muita gente passasse por lá o tempo todo. Nada de código secreto para entrar, nem revista de bolsa, muito menos scanner de raio X. Nos dois andares do prédio em que se encontra a empresa, há dezenas de funcionários sentados em suas baias de trabalho – muitos jovens –, salas de reunião vazias, ambiente clean e com certa formalidade. Enfim, tudo muito parecido com uma empresa de consultoria qualquer. Uma secretária recepciona a nossa equipe e, logo em seguida, entra Eduardo Gomide, managing director da Kroll no Brasil. “Decepcionada?”, brinca ele, acostumado com a expectativa dos visitantes em encontrar um ambiente, digamos, mais “secreto”.

Não é para menos. A Kroll é a maior empresa de consultoria em gerenciamento de riscos do mundo, especializada em garantir a segurança de empresas que passam por dificuldades financeiras ou estão prestes a fazer uma fusão ou aquisição, analisa relatórios e garante a transparência de todas as partes. Também investiga fraudes internas de grandes corporações, desvios ilegais de orçamentos de empresas, verifica antecedentes criminais de funcionários e na área de tecnologia, recupera dados eletrônicos que foram perdidos ou apagados propositalmente. Tem, entre seus clientes, o Santander, o Citibank e o governo brasileiro – com empresas como Petrobras e Banco do Brasil. A Kroll tem mais de 4.500 funcionários em 26 países e é um braço do grupo MMC, com faturamento anual na casa dos US$ 13 bilhões.

Mas, por aqui, ficou famosa após dois episódios emblemáticos. O primeiro foi a falência da construtora Encol, em 1999, que deixou cerca de 40 mil famílias sem os imóveis que haviam comprado, no maior caso de falência não-bancária da América do Sul, com valores que batem na casa de R$ 2,5 bilhões. Contratada pela massa falida da Encol, a Kroll investigou por mais de dois anos toneladas de papéis e conseguiu apontar onde parte do dinheiro desviado foi parar.

O segundo episódio que pôs a consultoria sob os holofotes aconteceu em 2004. Trata-se da Operação Chacal, investigação da Polícia Federal que analisava uma espionagem do Banco Opportunity, de Daniel Dantas, em cima de executivos da Telecom Italia e da alta cúpula do governo brasileiro. O esquema teria sido feito pela Kroll, contratada por Dantas, em um caso marcado pela disputa acionária da Brasil Telecom. No imbroglio, cinco funcionários da Kroll chegaram a ser presos, incluindo Eduardo Gomide e Vander Giordano, ambos diretores da empresa que conversaram com PODER, nesta visita exclusiva à empresa. Encarcerados sob alegação de que realizavam escutas telefônicas irregulares, foram soltos dias depois. Eles contam que ficou provado que os equipamentos eram, na verdade, para evitar grampos na sede na empresa – e não grampear outras, como a PF alegou na época. Mas o caso está na Justiça até hoje. (Leia quadro na página seguinte.)

CONSULTORIA OU ESPIONAGEM?

A partir de então, a Kroll ganhou uma fama da qual não conseguiu mais se desvencilhar: a de ser uma empresa de espionagem ilegal, com arapongas em locais estratégicos, que iriam desde as grandes corporações até o governo federal. Imagem, esta, que Gomide e Giordano fazem questão de refutar: “No Brasil criou-se um conceito sobre a Kroll que é completamente equivocado. Não somos uma empresa de espionagem”, diz Gomide. E vai além: “Por aqui, lidar com inteligência e fazer trabalhos de busca de evidências não é algo muito bem entendido. Nos Estados Unidos, onde fica a sede da nossa empresa, é muito comum o que se chama coleta de evidências. Em qualquer processo legal por lá, todas as partes podem fazer essa coleta, que tem função fundamental em qualquer processo. Existe um período que o juiz concede às duas partes e diz ‘Reúna tudo que você puder sobre o caso’, e estabelece uma data limite para isso”.

Gomide e Giordano se esforçam para mostrar que tudo ali é feito dentro dos limites da lei. Dão como argumento que a Kroll é uma empresa negociada em bolsa, de capital aberto e auditada todos os anos. Ainda citam que seguem as normas do programa de FCPA (Foreign Corrupt Practices Act), e ainda ajudam a implementá-lo em várias multinacionais brasileiras. “Esse programa, de acordo com a legislação dos Estados Unidos, proíbe qualquer empresa multinacional norte-americana de pagar suborno ou desenvolver corrupção em qualquer país do mundo, entre outras coisas. Então, para nós, o limite ético de como conduzir nossos trabalhos sempre foi um mantra dentro da empresa”, diz e acrescenta: “O FCPA também coíbe empresas de fazer negócio com quem tenha qualquer indício mínimo de corrupção”.

Os diretores da empresa contam que a Kroll, por exemplo, tem muitos clientes estrangeiros que já desistiram de fazer negócios importantes no Brasil porque a empresa nacional tinha um vínculo governamental não muito bem explicado (aliás, os executivos enfatizam que alguns grandes investidores chegaram ao país por meio da Kroll). “Estamos prestando serviços para uma organização interessada em fazer negócio na Guatemala. Existe um distribuidor por lá cujo dono é irmão do presidente. Essa empresa vai ser descredenciada por causa desse vínculo”, Giordano conta e explica: “É da natureza do nosso negócio trabalhar informações que são públicas. Levar para o cliente as informações para que ele gerencie o risco dele. Lá na frente, ele não vai querer se ver envolvido em casos de corrupção, que podem implicar em uma multa muito pesada nos EUA”.

CASO OPPORTUNITY

Mas, afinal, o que aconteceu no caso Opportunity? É fato que Daniel Dantas contratou a Kroll para realizar investigações durante uma disputa acionária com a Telecom Italia pela Brasil Telecom. A história tomou proporções homéricas, resultando na já citada Operação Chacal e, mais recentemente, no ano passado, na Operação Satiagraha, que levou Dantas para a prisão duas vezes – o banqueiro foi solto em seguida em ambas as vezes, com dois habeas-corpus concedidos pelo presidente do STF, Gilmar Mendes, em decisão que causou grande polêmica no Poder Judiciário brasileiro. Sobre o envolvimento da Kroll no caso, diz Gomide: “Nós fomos escolhidos por uma das partes para atuar nessa disputa entre grupos privados no Brasil. Todo o trabalho que nós fizemos tinha um único objetivo, que era instrumentar uma ação que corria na corte de Nova York. Por si só, isso já impõe todos os limites éticos e legais na nossa atuação”. Ele afirma também que a história foi, na verdade, desvirtuada. “Você pode contar um caso de diversas formas. Todos os ingredientes que haviam nessa história a tornaram bastante sexy”.

Um dos personagens mais famosos do caso, em 2004, foi o português Tiago Verdial, que fora funcionário da Kroll anos antes e, na época, prestava serviços à empresa no trabalho para o Opportunity. Com 30 anos, nada discreto – possuía um perfil em uma página de relacionamentos na internet –, acabou sendo preso por assumir à Telecom Italia que os havia espionado a mando da Kroll. A confissão – gravada sem o seu conhecimento – foi feita durante uma entrevista de emprego para a empresa italiana. “Tiago era nosso prestador de serviços, fazia traduções. Foi abordado pela Telecom Italia e passou informações da Kroll para eles, e não o contrário”, justifica Gomide. Outro personagem quase místico da história é o britânico William Goodall que, dizem, teria pertencido ao serviço secreto inglês e seria parceiro de Verdial em operações da Kroll no Brasil. De acordo com investigadores da PF, na época, ele teria um mandado de prisão no país, mas fugiu antes de ser preso. E mais: Verdial, na verdade, teria se deixado prender para desviar as atenções de Bill (como William era chamado), e de sua fuga. A Kroll nega veementemente. “Isso simplesmente não existiu. William era funcionário da empresa, trabalhou no Brasil e, findo o projeto em que participava, voltou para a Inglaterra. Nunca houve nenhum mandado contra ele.”

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