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Salmo 127

1 Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.

2 Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele supre aos seus amados enquanto dormem.

3 Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão.

4 Como flechas na mão dum homem valente, assim os filhos da mocidade.

5 Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta.

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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Floriano Peixoto: “O Haiti nunca foi tão abalado”

Na sua despedida do comando das Forças de Paz das Nações Unidas, o general brasileiro Floriano Peixoto afirma que não há prazo para a ONU deixar o país.


ENTREVISTA CONCEDIDA A REVISTA ÉPOCA




Como todos os comandantes da Missão de Paz das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), até janeiro o general de brigada Floriano Peixoto Vieira Neto morava e trabalhava no bairro nobre de Petionvile, nas montanhas que circundam Porto Príncipe, a capital do país.

Desde janeiro, no entanto, Peixoto voltou aos tempos de quartel. Como a maioria dos soldados brasileiros em missão no país, Peixoto passou a morar no Brabatt, a sede do batalhão brasileiro, do outro lado da cidade. Seu local de trabalho, o hotel Christopher desabou no terremoto de 12 de janeiro, matando muitos de seus colegas de trabalho, um de seus ajudantes e sua secretária. O hotel Montana, onde morava, também foi condenado.

Peixoto é um veterano no Haiti. Em 2004, Peixoto foi chefe de operações do primeiro contingente de soldados brasileiros que chegou ao país. Aquele foi o período mais perigoso e violento, quando as forças de paz das Nações Unidas entravam em favelas dentro de blindados Urutu para enfrentar gangues envolvidas com tráfico de drogas e distúrbios políticos. Em 2009, Peixoto voltou ao país como comandante da Minustah.

O Haiti estava pacificado e sua economia voltava a andar. Mas o trabalho dos últimos seis anos foi sepultado pelo terremoto, que matou cerca de 200 mil pessoas e deixou o paupérrimo Haiti em frangalhos. “O Haiti nunca foi tão abalado”, diz Peixoto. Aos 55 anos, pai de dois filhos, Peixoto encerra sua segunda passagem pelo Haiti nesta sexta-feira (9), quando passa o comando da Força de Paz ao sucessor, general Paul Cruz.


ÉPOCA – Após o terremoto de janeiro, os Estados Unidos, que não fazem parte da Força de Paz, assumiram funções no Haiti – inclusive o controle aéreo no aeroporto de Porto Príncipe. Houve estranhamento entre forças brasileiras e americanas?

Floriano Peixoto – A imprensa tentou valorizar muito isso num quadro que, na realidade, não ocorreu. Os Estados Unidos chegaram aqui com uma capacidade muito grande, porque têm muito dinheiro e recursos. O governo do Haiti solicitou oficialmente aos Estados Unidos que eles ajudassem na operação das suas duas estruturas: o aeroporto e o porto. Foi uma solicitação oficial do Haiti aos Estados Unidos. Então, não foi ocupação, não foi ingerência, não foi nada disso. Isso durou até o dia 19 de fevereiro. A partir de 19 de fevereiro, o aeroporto voltou ao controle do Haiti. O controle do porto não voltou antes porque os americanos estão consertando. Eu desconheço qualquer tipo de problema que tenha havido em relação a isso com o Brasil. Muito pelo contrário: nós tivemos aqui, quando informado com antecedência, o tratamento bastante facilitado em razão do número de aeronaves brasileiras que estavam deslocando para o Haiti para ajuda humanitária.


ÉPOCA – O senhor estava fora do Haiti no dia do terremoto. É verdade que os americanos o ajudaram a voltar?

Peixoto – Eu estava em Miami. O terremoto aconteceu às 16 e pouco e às 17 horas ligaram para mim, da nossa missão permanente em Nova Iorque. O brigadeiro Diegues me avisou e, a partir disso, eu comecei a esclarecer a situação. E havia só um telefone funcionando aqui no Haiti, na missão do Brabatt. Eu liguei pra cá e procurei me informar. Então, liguei para o Comando Sul dos Estados Unidos. E o Comando Sul dos Estados Unidos, na manhã de terça-feira, me trouxe de jato até Guantánamo, em Cuba. De Cuba até o Haiti eu vim num helicóptero deles. Eu retornei ao Haiti graças à ajuda do Comando Sul, que prontamente me apoiou em transporte. Ou seja, em 12 horas mais ou menos, eu estava de volta ao Haiti.


ÉPOCA – O terremoto fez o Haiti regredir em relação ao que havia sido conquistado após seis anos de presença da ONU?

Peixoto – O Haiti hoje, embora esteja numa situação melhor do que quando chegamos, se encontra numa situação muito difícil. Essa foi a maior tragédia da história do Haiti. Nem o tsunami matou tanta gente no Haiti: foram cerca de 250 mil pessoas, 1,3 milhão de desabrigados, 600 mil deslocados, 40 mil amputados. Em nenhum momento da sua história, o Haiti foi tão abalado. Porto Príncipe, Leogane e Jacmel parecem que foram bombardeadas, parecem que sofreram uma ação de guerra. E o Haiti nunca experimentou isso durante sua história. Houve um retrocesso enorme na infraestrutura, no funcionamento do Estado, na educação, no sistema de prisões, na parte hospitalar. Tudo isso vem sendo recuperado – lentamente, mas vem sendo. Muito disso por conta da cooperação internacional, da rede internacional e do papel que a ONU desempenha.


ÉPOCA – O governo haitiano tem condição de comandar a reconstrução do país?

Peixoto – O governo do Haiti tem, desde que faça parcerias. Ele foi muito afetado em sua capacidade administrativa. Mas aí é que entra o papel das Nações Unidas e da comunidade internacional. Agora, tudo o que é oferecido cabe ao governo haitiano estabelecer as suas prioridades. A decisão das prioridades e a gerência, a liderança dessas iniciativas, é atribuição do governo haitiano.


ÉPOCA – Antes do terremoto, estava prevista para 2011 uma reavaliação da missão. Ela começaria a ser reduzida, seria o começo da saída da ONU do Haiti.

Peixoto – É verdade. Agora, fica difícil estabelecer isso. A cada ano o mandato da ONU é renovado. Em outubro o mandato vai ser renovado. Hoje já não há como definir o período que se possa estabelecer que a ONU vai sair do Haiti. Isso é impossível de se prever. Muito pelo contrário: a percepção da comunidade internacional é que as Nações Unidas ainda permaneçam um bom tempo no Haiti.


ÉPOCA – Como é que está a situação de segurança hoje?

Peixoto – Desde 2008 o país estava completamente pacificado. E a situação de segurança não se modificou. A natureza dos poucos eventos que temos aqui não é segurança, é crime – porque roubam, estupram, sequestram. Isso não é segurança, é crime. Os poucos crimes que temos são os mesmos de antes do terremoto. A situação de segurança está absolutamente sob controle. As estradas estão funcionando, os poderes estão funcionando – com restrições, mas estão funcionando. As instituições bancárias estão funcionando, o porto e o aeroporto estão funcionando. O cidadão tem o direito de ir e vir, de sair do país e voltar. Isso é segurança.


ÉPOCA – Mas houve fuga de presos com o terremoto.

Peixoto – É interessante falar que dos 4 mil presos que fugiram, 15% verdadeiramente eram condenados. Os demais estavam presos para averiguação. Nós já conseguimos prender mais de 260 fugitivos. Nós intensificamos enormemente as nossas ações para não dar liberdade, para asfixiar esses fugitivos. Nós desenvolvemos um sistema de segurança, de patrulhamento, de presença, muito mais intenso do que era antes. Eles não estão tendo liberdade para atuar. A população está nos ajudando muito. (Recapturá-los) é uma questão de tempo. A situação está absolutamente sob controle.


ÉPOCA – Entre 2004 e 2008, os soldados brasileiros enfrentavam gangues nas ruas. Após a fuga dos presos, os soldados brasileiros voltaram a ter de enfrentar bandidos nas favelas?

Peixoto – Não, não tivemos enfrentamentos. Eles (os criminosos) se enfrentaram em disputas entre gangues. Mas nós, de imediato, desfocamos essa disputa e hoje a situação está absolutamente tranquila em qualquer bairro de Porto Príncipe. Não há troca de tiros, a parte dos sequestros está praticamente nula. Isso porque nós estimulamos, intensificamos a nossa presença nessas áreas de risco como Cité Soleil, Bel Air, Mart Saint, Carrefour e outras, Cité Militaire, e outras cidades.


ÉPOCA – Após seis anos, valeu a pena para o Exército brasileiro estar no Haiti?

Peixoto – O Haiti é o campo de prova para confirmar a elevada capacitação do militar brasileiro. Isso é o primeiro aspecto interessante. Segundo, é que tem servido também para uma verificação da nossa doutrina militar. Terceiro, para o exercício enorme de logística. Porque essa logística que foi aplicada aqui no Haiti, pelo Brasil, depois do terremoto, foi uma logística de guerra. Assemelha-se muito a aquilo que é proporcionado durante uma operação bélica, com movimento de aeronaves, deslocamento de tropas, movimento de navios. Isso é um exercício enorme de logística. O Brasil, aqui no Haiti, é símbolo, é lastro, é marca de qualidade. O soldado brasileiro pacificou as regiões de Porto Príncipe mais perigosas: Cité Soleil, Cité Militaire, Bel Air, aéreas perigosíssimas até então. Antes de chegarmos aqui, essas áreas estavam sob domínio de gangues. Então, o soldado brasileiro é também um lastro de eficiência operacional.


ÉPOCA – Como o senhor escapou do terremoto?

Peixoto – Eu estava em Miami de folga, ia voltar na segunda-feira, dia do terremoto. (Mas) Minha mulher e minha filha pediram para eu ficar uns dias a mais. Aí, eu liguei pra minha secretária, que também morreu, e ela adiou o ticket para quarta-feira. Fiquei lá por causa disso. Foi o que me salvou dessa tragédia.


Fonte: Época

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