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Salmo 127

1 Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.

2 Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois ele supre aos seus amados enquanto dormem.

3 Eis que os filhos são herança da parte do Senhor, e o fruto do ventre o seu galardão.

4 Como flechas na mão dum homem valente, assim os filhos da mocidade.

5 Bem-aventurado o homem que enche deles a sua aljava; não serão confundidos, quando falarem com os seus inimigos à porta.

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domingo, 8 de agosto de 2010

A história de Romeu e Julieta da Índia




Mais de mil indianos que realizaram uniões entre castas são assassinados a cada ano, vítimas de “crimes de honra” perpetrados por suas famílias

Ela ainda está desconfiada, como se corroída por uma incurável ansiedade. No entanto, Rashmi agora está em segurança, em seu apartamento no andar térreo de um pequeno prédio, no sul de Nova Déli. De sári rosa e echarpe azul, ela se senta sobre um colchão. Ela usa pulseiras nos braços e anéis nos pés. O pesadelo terminou, mas Rashmi continua com seus olhos assustados, tremendo com qualquer reminiscência do terror passado.

Ela aceitou ser entrevistada, com a condição de que seu nome fosse alterado e que a foto não revelasse seu rosto. Nunca se sabe, os valentões de sua aldeia podem aparecer para puni-la pelo seu amor herético. Seu marido Sanjay – cujo nome também foi alterado – a tranquiliza com o olhar. Então, a jovem indiana revela no fim da conversa: “Precisa haver uma mudança. Não podemos levar nos ombros o fardo de milhares de anos”.

Rashmi e Sanjay são uma espécie de Romeu e Julieta da Índia contemporânea que venceram a adversidade. Eles escaparam dessa onda de “crimes de honra” que sangram os amores proibidos, proscritos por um código social hindu muito rígido. A cada ano, mais de mil desses crimes são cometidos na Índia, segundo uma pesquisa do advogado Ranjit Malhotra.

A tendência é claramente ascendente, alimentada por um conflito cultural que se radicaliza entre uma modernidade dominante e uma tradição que resiste. “É como uma guerra civil”, reclama Rashmi. A imprensa indiana, que por muito tempo manteve silêncio sobre o assunto, agora cobre todos os casos que surgem, pressionando o governo a conter esses abusos sangrentos. Segundo um estudo conduzido pela associação Shakti Vahini, 72% desses “crimes de honra” visam jovens culpados por uniões entre castas. Na esmagadora maioria dos casos, as vítimas são as mulheres.

Rashmi e Sanjay tiveram sorte, uma vez que são o arquétipo desses amores híbridos. Eles desafiaram o tabu. Rashmi é uma Rajput, uma casta superior de tradição guerreira, que outrora reinou em inúmeros Estados principescos do nordeste da Índia. Sanjay, por sua vez, é originário de Andhra Pradesh (sul da Índia) e não sabe exatamente a qual casta pertence. Sua família é cristã, mas ele se define como “ateu”.

Quando ela se apaixonou por Sanjay em 2008, em Nova Déli, no seu local de trabalho – ambos são assistentes sociais - , Rashmi sabia perfeitamente bem que haveria uma comoção. Que ela estaria sujeita à fúria de seus parentes. Sua família já lhe havia reservado um marido mais velho, em virtude da tradição ainda viva dos casamentos arranjados, e certamente não aceitaria esse Sanjay de um nível inferior. Mas o amor era forte demais. A jovem Rajput desafiou então a ordem milenar. No início do ano, eles se casaram às escondidas em Nova Déli e, sabendo que a família de Rashmi ficaria em seu encalço, eles deixaram a capital.

E eis que viraram fugitivos no Rajastão. Ali se esconderam por um mês, enquanto os irmãos de Rashmi os procuravam em Nova Déli. A jovem aguentou bem, mas à medida que os dias foram passando, ela passou a ser corroída pelo sentimento de culpa. Descobriu que sua mãe havia ficado doente. Ela queria tanto se explicar, se justificar. Então, telefonou para seus pais. Um erro? Estava armada a armadilha afetiva. Seus pais lhe suplicaram que viesse encontrá-los em seu vilarejo, situado na fronteira de Nova Déli com o Estado de Haryana. “Eles me garantiram que respeitariam meu casamento, que só queriam me ver”, lembra. “Eu lhes dei uma chance”. Mas, uma vez de volta ao lar familiar, Rashmi foi sequestrada. Sanjay não conseguia mais falar com ela pelo telefone. Temendo o pior, ele mobilizou organizações de defesa dos direitos da mulher.

Uma advogada ativista foi até o local junto com ele. “A polícia no começo defendeu a família”, conta Sanjay, “mas acabou cedendo diante do ativismo da advogada”. Esse foi o ponto de virada da história. Diante da polícia, Rashmi garantiu que Sanjay não a havia “sequestrado”, como alegava a família, e sim que ele era o homem que ela amava. Constrangidos com toda essa agitação, os pais se conformaram com o casamento, mas com uma condição: que o vilarejo não soubesse de nada.

“Eles se sentiram humilhados”, explica Rashmi. “Eles não querem ouvir comentários ofensivos de amigos e vizinhos”. Então, oficialmente, Sanjay é um Rajput assim como Rashmi, mas ninguém nunca o viu. Todos acham que ele trabalha longe e é muito ocupado. As aparências estão salvas.

Em Bollywood ou nas classes mais ricas, os amores entre castas e até entre religiões diferentes – hindus e muçulmanos – são frequentes. Mas a Índia rural resiste, e escorre o sangue dos jovens proscritos.

Essa “guerra civil” mencionada por Rashmi encontra um poderoso alimento na emancipação das mulheres, especialmente em Haryana, onde as meninas muitas vezes são mais instruídas que os rapazes. “Elas querem decidir suas vidas por si mesmas”, diz Sanjana Kumari, diretora do Centro de Pesquisa Social, uma organização de defesa das mulheres com sede em Nova Déli. “Isso é visto como um desafio à ordem patriarcal que deve ser combatido na raiz.”

Para os guardiões do costume, o perigo é ainda maior uma vez que as mulheres dispõem, desde 1956, do direito à herança, exacerbando assim a questão patrimonial do casamento. “Para os tradicionalistas, o casamento deve obrigatoriamente consolidar a casta”, observa Prem Chowdhry, pesquisadora e autora de uma obra sobre os casamentos “litigiosos”.

É essa “pressão social” que Rashmi, a feliz sobrevivente de uma perseguição que poderia ter terminado mal, pede para ser “superada”: “Nenhuma família realmente quer matar seus filhos. Se ela chega a esse ponto, é por medo da vergonha que a exclui da comunidade”.

FONTE: BOL Internacional

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