Um plano de Defesa do governo federal será apresentado esta semana. E um dos itens será, certamente, o reaparelhamento das Forças Armadas. Um outro item de importância no plano será o apoio governamental à exportação de produtos bélicos de fabricação nacional. O recente anúncio da exportação de mísseis de radiação para o Paquistão permite duas ilações: a primeira, de que a indústria bélica brasileira está ganhando competitividade pela qualidade e confiabilidade, tanto que exporta um produto de elevada sofisticação tecnológica, como os mísseis de radiação; a segunda é de que, para se desenvolver, o complexo industrial bélico não pode deixar de contar com a colaboração do governo federal, que deverá alinhar políticas em consonância com os interesses industriais.
Para que os leigos em equipamento bélico entendam a importância e o grau de sofisticação tecnológica dos mísseis de radiação, basta lembrar que apenas uns cinco países no mundo têm linha de produção deste armamento. Lançado de avião, o míssil de radiação é atraído pelas ondas eletromagnéticas de um radar e os 50 kg de explosivos que porta na ogiva poderão destruir o radar emissor bem como suas instalações acessórias. Para se ter uma idéia da importância estratégica do míssil de radiação, suponhamos que uma belonave em águas internacionais espione o espaço aéreo brasileiro e se constitua em óbice para o tráfego marítimo ao longo da costa brasileira. Todos os radares de terra na área deverão ser desligados, de tal forma a não servirem de alvo para um míssil de radiação. Lançado por avião brasileiro, um míssil de radiação poderá ser direcionado pelas ondas emitidas pelo radar do navio inimigo. A carga explosiva que leva na ogiva é suficiente para destruir o radar e até mesmo inabilitar a belonave inimiga para operar em reação de defesa.
Um fato deve ser relembrado para se ter conta da importância da concomitância da política governamental com a indústria bélica. O Brasil se recusou a assinar, em Oslo, o tratado internacional que proíbe a fabricação e o uso de bombas de fragmentação, há duas semanas. Este tipo de bomba é lançado de avião e, uma vez em queda, se fragmenta em muitas partes antes de atingir o solo, fazendo com que a área sob efeito das explosões seja ampliada. Trata-se de um armamento destinado especialmente a uso contra tropas concentradas, mas como não se tem perfeito controle sobre a área abrangida pelas parcelas da bomba, é possível que atinja áreas residenciais urbanas ou outros alvos não desejáveis. Além disso, as bombas de fragmentação têm efeito perverso, pois os fragmentos não detonados ficam expostos no solo e poderão ser motivos de curiosidade por pessoas inocentes que, involuntariamente, os fazem explodir. Há relatos de crianças vitimadas por estilhaços de bombas de fragmentação. Mesmo assim, tendo em vista que temos no Brasil fabricante deste tipo de bomba, o Itamaraty resolveu não aderir ao tratado que visa o seu banimento.
No caso da exportação dos mísseis de radiação para o Paquistão, devemos considerar que a Índia, uma promissora parceira em comércio do Brasil, poderá reagir tendo em vista o conflito dos indianos com os paquistaneses pela hegemonia da Cashemira. Assim, num agravamento do prolongado conflito indú-paquistanês os mísseis brasileiros poderão ser usados contra a Índia. São condicionamentos deste tipo que fazem a indústria bélica dependente da política externa do Brasil. Mas, tradicionalmente, nossa indústria bélica tem encontrado mercado no exterior e, há alguns anos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) chegou a considerar a possibilidade de usar tanques Bernardini como opção para seus recursos de terra na Europa.
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