Helicópteros da FAB serão identificados com logotipo da Cruz Vermelha. Militares colombianos abrirão “corredor humanitário”
Silvio Queiroz
Helicópteros da Força aérea Brasileira (FAB), que serão identificados com o logotipo do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICR), devem voar para a Colômbia na próxima semana para transportar os integrantes de uma comissão que resgatará seis reféns a serem libertados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Um técnico FAB era aguardado ontem em Bogotá para estabelecer contato com os colegas colombianos e acertar os últimos detalhes logísticos da operação com a senadora Piedad Córdoba, o governo colombiano e a Cruz Vermelha, em reunião prevista para hoje.
“O tipo exato e o número de aparelhos, bem como a tripulação e os demais aspectos técnicos, serão definidos com o representante brasileiro”, disse ao Correio Carlos Ríos, porta-voz do CICR na Colômbia. Ríos não quis comentar a escolha do Brasil para fornecer o apoio logístico. “Para nós, qualquer país que se disponha a ajudar, com a necessária prudência, será bem-vindo”, afirmou. O governo brasileiro é visto como interlocutor confiável para o governo e a guerrilha. O CICR acredita que os sequestrados podem estar livres em até duas semanas, mas o ministro da Defesa, Francisco Santos, avalia que os preparativos finais podem estar concluídos “em dois ou três dias”.
Na noite anterior, a anatomia da missão foi delineada em uma reunião entre o chefe da delegação da Cruz Vermelha em Bogotá, Christophe Bene, a senadora Piedad Córdoba, o comissário para Paz do governo colombiano, Luis Carlos Restrepo, o embaixador brasileiro, Valdemar Leão, e representantes da Comissão de Colombianos pela Paz — um grupo de intelectuais que, ao lado de Piedad Córdoba, mantém entendimentos com as Farc para a libertação de todos os reféns em poder da guerrilha.
“Os helicópteros brasileiros portarão o logotipo do CICR, que se encarregará das garantias e coordenará a logística dessa missão humanitária”, disse ao final do encontro — já na madrugada de ontem, em Brasília — o porta-voz da Cruz Vermelha Yves Heller. Ele informou que o governo do presidente Álvaro Uribe se comprometeu a dar segurança para o resgate. Assim que os coordenadores da operação tiverem indicações mais precisas sobre o local onde os reféns serão entregues, os militares colombianos estabelecerão “corredores humanitários”, suspendendo ou restringindo as operações de combate para permitir o deslocamento, tanto da delegação humanitária quanto das unidades guerrilheiras que custodiam os reféns.
Instruções
O emissário da FAB também receberá com os colegas colombianos informações técnicas sobre a topografia colombiana, para que os pilotos designados para a operação possam se preparar. Embora não tenha sido dada nenhuma indicação sobre locais, os dois reféns mencionados pelas Farc foram capturados e até recentemente eram mantidos em regiões distintas da Colômbia, e razoavelmente distantes entre si.
O ex-governador Alan Jara, do departamento (estado) de Meta, estava até as últimas informações sob custódia de frentes guerrilheiras que operam no sudeste. Já o ex-deputado provincial Sigifredo López pertence a um grupo seqestrado em Cali, no sudoeste. Além dos dois políticos, as Farc pretendem libertar três policiais e um militar, cujos nomes, segundo Piedad Córdoba, serão revelados ainda antes da operação.
Análise da Notícia
Antessala para a retomada do diálogo
Não foi surpresa, para os que acompanham o conflito colombiano e o cenário sul-americano, que o Brasil tenha assumido um papel-chave na libertação de mais seis reféns das Farc. Ao contrário: não são poucos os que esperavam, já há algum tempo, um envolvimento mais direto do governo Lula, cujo perfil discreto em relação ao drama da ex-senadora Ingrid Betancourt, resgatada pelos militares colombianos em julho passado, motivou cobranças — em primeiro lugar, dos familiares de sequestrados e dos defensores de uma solução negociada para o conflito.
Mais do que meramente logística, nos termos militares, a participação brasileira agora é política. Depois de sofrer uma série de golpes de mão por parte do exército, no ano passado, a guerrilha colombiana tornou-se ainda mais arredia. Em especial porque, no cinematográfico resgate de Ingrid, o símbolo da Cruz Vermelha foi usado pelos militares como parte de um ardil.
A confiança de ambas as partes na participação brasileira abre perspectivas mais ambiciosas. A iniciativa da guerrilha de entregar os últimos dois políticos em seu poder indica disposição a um acordo que favoreça os demais reféns — como antessala para uma aproximação que reconduza ao diálogo. (SQ)
Fonte: Correio Braziliense
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
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» Resgate com apoio do Brasil sai em uma semana
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