Está sendo muito mais rápido e mais forte do que se previa o impacto da crise mundial sobre a China. O resultado da balança comercial em janeiro, apesar do registro de seu terceiro maior superávit comercial mensal em toda a história, de US$ 39 bilhões, mostra a virulência da crise no país. Era previsível que suas exportações cairiam em razão da retração das economias da Europa e dos Estados Unidos, os principais mercados para os produtos chineses. Mas a queda de 17,5% no mês passado, na comparação com janeiro de 2008, a maior em dez anos, foi muito pior do que a esperada. Mais dramática foi a queda das importações, de 43% na comparação com janeiro do ano passado. Com a queda muito mais intensa das importações, o saldo comercial cresceu 102%.
A queda brutal das importações não se deve apenas ao recuo dos preços das commodities que o país importa, mas também à queda da sua própria demanda por causa da perda do dinamismo das suas exportações - a China é grande importadora de partes e componentes de produtos manufaturados que monta para em seguida exportar - e do consumo interno. O governo chinês anunciou, em novembro, um pacote de estímulo à demanda interna no valor de US$ 585 bilhões, mas os resultados da balança comercial de janeiro mostram que, até agora, isso não foi suficiente para mudar a situação.
O país vem acumulando dados cada vez mais negativos, e preocupantes. A queda contínua das exportações já provocou a demissão de pelo menos 20 milhões de trabalhadores vindos do campo e que estavam empregados em fábricas que atendiam ao mercado externo.
No quarto trimestre de 2008, o PIB chinês cresceu 6,8%, um desempenho muito bom se comparado com o de outros países asiáticos e excepcionalmente bom quando confrontado com o resto do mundo, mas decepcionante para as necessidades do país, que precisa crescer bem mais do que isso apenas para acolher no mercado de trabalho a população que procura emprego nas cidades. Com os números já conhecidos sobre comércio exterior, nível de emprego e produção, estima-se que, no primeiro trimestre de 2009, a expansão do PIB será de 6,1%, a menor desde 1999.
Citadas como modelos de prudência, pois nos últimos anos acumularam reservas e poupança em ritmo não alcançado em nenhuma outra parte do mundo, até há pouco as economias asiáticas de rápido crescimento, em primeiro lugar a chinesa, eram consideradas resistentes à crise mundial. Supunha-se, também, que o comércio entre elas, bastante desenvolvido, atenuaria o impacto da desaceleração dos negócios com a Europa e os Estados Unidos. Mas, fortemente dependentes do comércio exterior, especialmente com seus principais mercados, elas estão sendo atingidas duramente pela crise.
No último trimestre de 2008, o PIB combinado de Hong Kong, Cingapura, Coreia do Sul e Taiwan deve ter diminuído 15% na comparação com igual período de 2007. Não surpreende, por isso, que as exportações da China para a Ásia estejam caindo muito mais depressa do que as que se destinam às demais regiões. Em dezembro de 2008, a queda foi de 27% na comparação com dezembro de 2007.
Como na China, as tentativas dos governos de outros países asiáticos de estimular o consumo doméstico para compensar a queda das exportações não vêm produzindo os resultados esperados. Essas economias estão sendo acossadas por duas forças que não conseguem derrotar: a queda da demanda externa, exacerbada pela escassez de crédito, essencial para estimular as exportações; e o mau desempenho do consumo interno, que em outras épocas serviu de compensação à queda das exportações.
É também por meio do comércio que o impacto da crise sobre as economias asiáticas pode afetar o desempenho dos países latino-americanos, especialmente o Brasil. Esta é advertência que fazem Daniel Volberg e Gray Newman, economistas do Banco Morgan Stanley baseados em Nova York. Eles reconhecem que os mercados asiáticos respondem por uma fatia relativamente modesta das exportações dos países latino-americanos (no caso brasileiro, 14% das exportações vão para esses mercados). Mas observam que, no ano passado, os países asiáticos responderam por 21% do aumento das exportações brasileiras.
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